sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A EXPERIÊNCIA DE UMA ESCOLA DE PROJETOS EM PROJETO



Tudo começou quando professores vieram me procurar para uma discussão sobre uma escola de projetos. Eu era coordenador pedagógico e fui buscar no teatro – educação o projeto: Leitura e Escrita: Arte e Criatividade na Escola. Pois de teatro eu entendia, com uma experiência de mais de trinta anos em grupos populares de teatro, como diretor, autor e ator. Também posso dizer que entendo de educação, depois de mais de vinte anos trabalhando e pesquisando, como professor, coordenador pedagógico e diretor. Daí a aliança: teatro – educação e o resultado da conversa com os professores, que resultou no projeto que está publicado neste blog com o artigo sobre a experiência vivida na E.E. Prof. Jamil Pedro Sawaya – Leste 4. Leitura e Escrita: Arte e Criatividade na Escola.
Depois desse projeto, vieram outros e mais outros, transformando a escola numa escola de projetos em projeto e mais pesquisas para decifrar a crise de leitura e escrita dos nossos jovens nas escolas da era da tecnologia. Mais que isso, fundamos um grupo, que leva o nome desse blog: Enter & Ação, de autoformação e fomos para a universidade debater, estudar, pesquisar e promover cursos, oficinas, sobre práticas pedagógicas, visando uma reinvenção da escola, através de projetos em projeto. Passamos por escolas, universidades e congressos levando nossa prática, que agora vai ser registrada nesse canal de comunicação que vem revolucionando o mundo da informação: blog!
No dia a dia vamos deixando aqui várias experiências e esperando outras, também debatendo a educação e como muitos, procurando saída para a crise em que estamos, seja de formação de professor ao ensino e desta a aprendizagem. Onde não adianta buscar culpados, pois quando estabelece uma crise tão profunda como essa que estamos assistindo na educação brasileira, tudo precisa ser visto, inclusive as políticas públicas. Essas sim precisam ser repensadas, porque é delas que a sociedade espera solução. Sabemos que para isso acontecer é preciso vontade política, não bastam boas intenções e mais projetos, que sempre finda com o próximo governante. Carecemos de continuidade, seja com quem for, a educação leva-se tempo e paciência e mais do que nunca persistência, sem a qual não se chega a lugar nenhum.
Temos avançado, mas não o suficiente para que possamos comemorar, porque ainda falta muito para colocarmos a educação como prioridade, aliás, nunca tivemos em toda a nossa história uma educação de qualidade para todos.
A qualidade sempre esteve presente na escola de poucos, quando se tornou praticamente universal em nosso país, sumiu. A partir daí fomos entrando na crise em que agora estamos. É preciso, portanto, pensar numa educação de qualidade para todos. Neste sentido, estamos nos autoformando e formando, através das nossas pesquisas e experiências, visando contribuir para o debate e fundamentalmente para está do lado da construção da educação do futuro.


Naidson Pereira Pires
Coordenador do grupo: Enter & Ação

LEITURA E ESCRITA: ARTE E CRIATIVIDADE NA ESCOLA

LEITURA E ESCRITA: ARTE E CRIATIVIDADE NA ESCOLA
Análise de leitura e escrita a partir do Projeto: Leitura e Escrita – Arte e Criatividade na Escola, E. E. Prof. Jamil Pedro Sawaya – Diretoria de Ensino Leste 4. Com os Professores e os Alunos das 5ª séries do Ensino Fundamental Nível II e dos 3ºs anos do Ensino Médio.[1]


Naidson Pereira Pires

Resumo
O objetivo deste trabalho é o de fazer uma análise da leitura e a escrita na escola, com ênfase na experiência realizada pelo Projeto: Leitura e Escrita – Arte e Criatividade na Escola, da E. E. Prof. Jamil Pedro Sawaya – Leste 4. No período do ano letivo de 2006. Com esta abordagem pretendo verificar se a aplicação do projeto despertou nos alunos o gosto pela leitura e o conhecimento da escrita.
Por considerar que a leitura e a escrita é fundamental para os alunos terem o pensamento reflexivo e crítico, bem como o seu desenvolvimento como cidadão responsável e autônomo no mundo em que está inserido, assim como para ter a capacidade leitora e escritora de prosseguir o estudo de maneira independente. Porque o ensino da leitura e da escrita é de grande relevância, para o desenvolvimento pleno das competências escolar.

Palavras-chave: Projeto Pedagógico; Planejamento; Leitura, Escrita; Cultura Popular; Ensino-Aprendizagem.



Introdução

A escolha do tema Leitura e Escrita para as 5ª séries e o jovem que está concluindo o ensino médio, deu-se em razão do trabalho que a escola em análise vem desenvolvendo ao longo dos anos com os alunos para que possam melhorar as deficiências da leitura e da escrita apresentadas a partir de diagnóstico levantado pelos professores.
Após definir o tema a ser pesquisado e iniciar as leituras pertinentes constatei que; esse problema traz conseqüências inclusive para os gestores das escolas, que muitas vezes, em suas ações na escola limita-se diante das dificuldades em que os alunos estão concluindo o ensino médio. Isto porque, acaba gerando a suspeita de que a qualidade do ensino na escola é um problema de gestão. O que não é, mas sim, uma dificuldade nacional que o país vem sofrendo desde a inclusão da escola para todos.
Por outro lado, alguns teóricos, que trabalham com o tema da leitura e da escrita, defendem que o problema está enraizado na questão cultural, da escola e da população jovem que perderam o gosto pela leitura e consequentemente às dificuldades da escrita surgiram em decorrência da falta da leitura que vem marcando o currículo escolar.
Convergi os estudos ao método do prof. Paulo Freire, que a leitura e a escrita, seria o letramento, quando nos ensinou que os sujeitos estão alfabetizados quando são capazes de fazer a “leitura do mundo”; entendendo que o mundo é complexo e não se dar a conhecer de imediato, para “lê-lo”, diz, é preciso que os sujeitos sejam instrumentalizados, no caso da escola, com conhecimentos científicos, sociais e culturais. Então, a leitura e a escrita, o letramento, como Freire ensinou, é a questão principal que deve orientar um projeto de leitura e escrita na escola, em todas as disciplinas e inclusive, fazendo parte de sua proposta política pedagógica.
Em nosso país, o Instituto Paulo Freire, vem desenvolvendo uma excelente discussão sobre o método do mestre que dar nome ao instituto, com possibilidades reais de modificar o ensino da leitura e da escrita nas escolas a partir da educação cultural da criança e do jovem. Através de cursos de formação para educadores e professores o instituto contribui com as escolas e ainda presta apoio a toda experiência que as escolas desenvolvam ou que venha a desenvolver.
Outra base teórica que me convergi, foi a do prof. Ezequiel Theodoro da Silva, que enfatiza bem em seu trabalho o problema, quando pondera que a questão da leitura e da escrita não é assunto para ser discutido exclusivamente em meios acadêmicos. Pois o problema atinge toda a sociedade que não possui o hábito da leitura e consequentemente acaba pela falta desta interferir na escrita.
Os estudantes, por sua vez, só lêem como atividade escolar obrigatória e poucos são aqueles que o fazem com prazer, e para Ezequiel Theodoro da Silva, esta é uma tarefa dos professores para resolver na escola. Mas, sabemos que os próprios professores estão lendo menos, seja pelas condições de grandes jornadas de trabalho ou mesmo porque estão entre aqueles que não apreciam a leitura sistematicamente.
Após me instrumentalizar com o embasamento teórico partir para a elaboração de um projeto tendo como objeto a análise do projeto: Leitura e Escrita – Arte e Criatividade na Escola com ênfase na questão cultural e da criatividade dos alunos da escola indicada.
Meu objetivo restringiu-se a analisar o projeto e conhecer efetivamente o seu resultado, para isso, procurei verificar como se dar a prática docente na escola, o plano do projeto e do professor a partir deste, analisando a contribuição do projeto para o desenvolvimento de habilidades e competências dos alunos. Procurando entender toda a relação entre gestor/professor/aluno durante a realização do projeto, verificando a eficácia desse método e se desperta na criança e no jovem o gosto e a aprendizagem da leitura e da escrita.
A metodologia desta pesquisa está dividida em três partes: a primeira foi o levantamento bibliográfico e a leitura de teóricos de relevância com o tema. A segunda, a pesquisa de campo, que foi realizada na cidade de São Paulo, na unidade escolar E. E. Prof. Jamil Pedro Sawaya, da rede estadual e pertencente à Diretoria de Ensino Leste 4, nas 5ªs e 3ªs séries do ensino médio, por meio de gestor do projeto naquela escola, como coordenador pedagógico e entrevistas com o Diretor, professores e alunos, observação desde o treinamento com os professores a aplicação do projeto, assim como, o acompanhamento dos resultados das avaliações, seja no campo pedagógico do ensino e no resultado da aprendizagem.
Desta forma, pude conhecer analisar e entender as diversas situações que podem fazer com que o ensino da leitura e a escrita na escola seja de qualidade, com aprendizagem significativa e contextualizada, bem como, quando não tenha sentido, significado e contextualização para os alunos, que acabam por terem sérias dificuldades no desenvolvimento e no aproveitamento de aprendizagem da leitura e da escrita, chegando a níveis alarmantes na conclusão do ensino médio. E a terceira constituiu na coleta e na apreciação dos dados obtidos no desenvolvimento da pesquisa, que possibilitou a conclusão deste artigo.
A escola escolhida se deu porque exerço a função de Coordenador Pedagógico naquela unidade desde 1996, tendo sido a partir de análise realizada pelos professores e a Equipe Gestora, sobre os resultados alcançados pelos alunos no SARESP / 2000 o criador do projeto. O nome desta unidade, E. E. Prof. Jamil Pedro Sawaya, está sendo citado por ter autorização da direção, enquanto que os nomes dos Gestores, Funcionários, Professores, Pais e Alunos entrevistados deixarei de mencionar para preservar a identidade dos envolvidos nesta pesquisa. Assim, identificarei como (D1 – Diretor, F1 – Funcionário, P1, P2... P6 – Professores, PAI 1, PAI 2 e A1, A2 – Alunos), que generosamente aceitaram participar desta pesquisa.
A opção pelas 5ªs séries do ensino fundamental nível II e as 3ªs séries do ensino médio, se deu exatamente para verificar aqueles alunos que estão ingressando no projeto e aqueles que estão concluindo o estudo básico.
O projeto vem sendo aplicado desde o ano de 2001 na escola referida para esta pesquisa, pelas razões já expostas nesta introdução. Entretanto, analisarei apenas o ano de 2006, como recorte científico deste artigo.

Por Que um Projeto de Leitura e Escrita na Escola?

Existe hoje uma grande discussão acadêmica sobre o ensino da leitura e da escrita nas escolas do ensino básico no país, muitos vêem a questão simplesmente pelo prisma de que com a imagem que veio através da televisão e agora com a internet. Tanto as crianças, assim como os jovens perderam o gosto pela leitura e consequentemente surgiram às dificuldades da escrita. Para o professor e pesquisador Ezequiel Theodoro da Silva.

Quando uma criança tem problemas com matemática (ou qualquer outra disciplina específica do currículo escolar), ela sofre somente nesta matéria. Mas se essa criança tiver problemas com leitura, ela vai sofrer não só com a matemática, mas com todas as disciplinas do currículo escolar. (SILVA, 2006, p. 103).

    O Sistema de Avaliação Regular do Estado de São Paulo (SARESP), realizado no ano de 2000, detectou que a grande maioria das escolas da Rede Estadual de Ensino apresentava problemas de leitura e escrita com seus alunos. O que não era um privilégio apenas da rede estadual paulista, mas, conforme o Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF), órgão vinculado ao Ministério de Educação e Cultura (MEC), de que apenas um em cada quatro brasileiros consegue compreender o texto que lê. Ou seja, o problema da leitura e da escrita é nacional.
Diante desta realidade, foi que nasceu o projeto Leitura e Escrita – Arte e Criatividade na Escola, pois a unidade escolar que serviu de base para essa pesquisa, era uma das que apresentava o problema.
O projeto em sua essência é a partir de situações de leitura e escrita, montada através de dinâmicas e oficinas, treinadas pedagogicamente com os professores de todas as disciplinas, que após o treinamento, trabalha com os alunos de forma interdisciplinar em espaços que vão desde a sala de aula a espaços alternativos na escola e na comunidade. Objetivando o levantamento de onde parte o problema da leitura e da escrita e ao mesmo tempo fornecendo dados que são utilizados para a elaboração do projeto pedagógico da escola, bem como, inovação pedagógica e didática para o trabalho dos professores e incentivo ao clube do livro que a escola criou no sentido de oportunizar os alunos terem empréstimos de livros para lerem em casa e estendendo a oportunidade para os seus familiares.
Também foi criada com o projeto a sala laboratório de escrita, onde professores trabalham com os alunos diversas linguagens de escrita, dentro de um ambiente especialmente elaborado para a criação de textos e a reescrita dos mesmos. Que após a revisão e a arte final se transformam em livros escritos pelos autores aprendentes, sendo lançados em grandes encontros de autógrafos para a comunidade. Muitos desses escritos também se transformam em outra arte, como peças teatrais, músicas e jograis. Possibilitando encenações de espetáculos abertos para a comunidade. Fator que trouxe muita criatividade e o gosto dos alunos com a obra literária. Aqui compartilhando com a idéia de que a literatura pode ser mais interessante na escola quando adere à outra arte.

Ao invés de reproduzir os enfadonhos passos contidos nos livros didáticos ou cartilhas (ler em voz alta, repassar o vocabulário, responder questionário, fazer gramática e redação), sugiro que os professores desenvolvam atividades com outras artes no sentido de explorar os textos literários, produzidos primordialmente com a linguagem verbal escrita e com imagens (ilustrações). Mais especificamente, quando for trabalhar os livros de literatura infanto-juvenil com um grupo, que o professor imagine e desenvolva atividades usando música, teatro, dança, fotografia, artes plásticas, para aguçar a sensibilidade das crianças e, ao mesmo tempo, fazer comparações possíveis e aumentar o grau de compreensão da vida através da fruição de trabalhos artísticos de diferentes gêneros. (SILVA, 2006, p. 76 – 77).

O ano de 2006 foi o grande momento do projeto, exatamente porque a escola naquele ano conseguiu uma excelente colocação no SARESP, superando os índices alcançados pela Diretoria de Ensino – Leste 4, as outras diretorias do Estado e assim ficando entre as primeiras colocadas do Estado de São Paulo. Também foi o ano onde mais ofereceu eventos culturais proporcionados pela produção literária dos alunos na sala de laboratório. Da mesma forma a sua biblioteca teve o recorde de 376 livros emprestados e os professores realizaram intensos debates nos Horários de Tempo Pedagógico Coletivo (HTPC) que refletiam a ação – reflexão – ação do projeto em toda a sua dimensão pedagógica para que o ensino levasse a aprendizagem numa nova perspectiva cultural. Possibilitando ainda, a criação da Escola de Projetos em Projeto na Rede Estadual de Ensino. Ainda foi possível a criação de um espaço de formação continuada em serviço de Gestores e Professores, que possibilitou uma inovação sobre a prática pedagógica numa escola pública.
Essa formação continuada de professores que também vem sendo tão debatida e incentivada esbarra quase sempre na falta de tempo desses profissionais que muitas vezes precisam acumular cargos em duas redes públicas ou na rede particular. Dificultando a realização de projetos nas escolas, que na inovação do projeto aqui pesquisado, mostrou que quando a escola ultrapassa os seus limites de estar em rede e apenas por ela seguir, muito pode realizar na formação continuada dos seus professores. Para isso, é preciso a transgressão para que possa efetivamente proporcionar o tempo que tanto clama os professores. Assim foi feito na escola de projetos em projeto que transgrediu com a implantação definitiva do projeto leitura e escrita: arte e criatividade na escola.

[...]  à transgressão das amarras que impeçam de pensar por si mesmo, construir uma nova relação educativa baseada na colaboração na sala de aula, na Escola e com a comunidade. Na não-marginalização das formas de saber dos excluídos, na construção de um novo sentido da cidadania que favoreça a solidariedade, o valor da diversidade, o sincretismo cultural e a discrepância. (HERNANDEZ, 1998, p. 13).

 Exatamente com a colaboração e da prática pedagógica que se criou com o projeto, onde as aulas do conjunto das disciplinas, durante a execução das dinâmicas e das oficinas, davam lugar a outro tipo de tempo pedagógico na escola. Que era acordado com os alunos e os seus pais ou responsáveis, assim criava-se esse tempo e a prática de ter até quatro professores com uma mesma classe ao mesmo tempo. Dimensionando numa outra realidade pedagógica e quebrando com a idéia daquelas aulas ministradas de sinal em sinal, sem que o aluno aprendesse os seus conteúdos de forma significativa e contextualizada.
Da mesma forma, o projeto proporcionava que professores também pudessem sair do seu isolamento e trocassem com os seus pares idéias e criação de aulas em projeto, compartilhando descobertas que os seus alunos adquiriam e ao mesmo tempo localizassem dificuldades que esses apresentavam com a leitura e a escrita. Discutidas e refletidas com o coletivo sobre a melhor maneira da intervenção para achar a solução dos problemas.
Tudo isso, tinha um sentido pedagógico diferenciado da rede e a Direção assumiu plenamente os riscos que pudessem acontecer, seja com a Supervisão ou mesmo com a Diretoria de Ensino e mais profundamente com a Secretaria da Educação. Exatamente por ter uma concepção de escola que refletia em suas próprias palavras sobre a realização do projeto.

“O Projeto Leitura e Escrita: Arte e Criatividade na Escola, possui vertente importante para que os alunos possam ter de fato uma escola diferenciada e com qualidade. Só detectar os problemas da leitura e da escrita a escola já sabe, agora arrumar solução é que é o entrave. Esse projeto foi além da expectativa, demonstrado no resultado alcançado no SARESP de 2006. Por isso valeu a pena e mais ainda os riscos de transgredir com a normalidade legislativa da rede”.  (D1)
   
 Essas palavras me remetem à ideologia do tecnicismo que instalou no Brasil, a partir de 1966, depois do acordo MEC-USAID. Onde interferiu sobremaneira na formação do professorado brasileiro. Tirando-lhe a autonomia e consequentemente a autonomia da escola. Além de abrir espaço para que a educação começasse um processo de mercantilizar as relações de ensino-aprendizagem e ainda de criar os modismos metodológicos que governos foram adotando e adota em gabinetes requintados sem a dimensão da realidade do professor na sala de aula, mais ainda, excluindo dele o acesso à cultura, com os salários cada vez mais defasados e do aluno a perspectiva de um ensino de qualidade. Assim, fomos ao longo desses anos construindo o problema que agora assola a todos, sem distinção, com professores e alunos mal formados através de uma escola pública que perdeu a sua identidade e ao perdê-la fez com todos aqueles que dependem dela perdessem também. Construindo uma epopéia de excluídos do saber e da cultura, assim criando uma nação de analfabetos funcionais que reivindica a própria necessidade do país de ter pessoas capacitadas para o enigma do trabalho moderno.
Pelo contrário, continuamos construindo uma sociedade ágrafa, sem que ao menos entendermos a importância da leitura e da escrita para que possamos ter uma cidadania plena e com a mais poderosa das armas que é o conhecimento, que só pode vim com o estudo qualificado. Para isso, a formação e as condições de trabalho do professor são cruciais, assim foi que o projeto pensou a escola em questão, pois a realidade que chegamos, precisava e precisa de reparação.

Este triste panorama. Esta a medonha figura. Este o trágico frankenstein social, com desvios seculares, em que todos nós estamos metidos e onde as escolas, com professores também abatidos, tentam produzir leitores que desenvolvam o conhecimento e se tornem cidadãos. (SILVA, 2006, p. 11).  

A fala a seguir de um funcionário da escola, retrata bem a importância do projeto e o justifica em toda a sua plenitude dentro da realidade de uma escola pública que ousou visando suprir a deficiência dos alunos, o resgate do professor na sua vocação pedagógica e o contentamento do trabalho vital dos funcionários. “A escola ganhou sentido, nos dias do projeto parece mesmo uma escola. Onde os alunos aprendem e nós aprendemos com eles. É muito bom, deveria ser assim, ter projeto todos os dias, pena que o Governo não reconhece”. [F1]
Foi com esse propósito que pensei ao eleger uma escola de projetos em projeto para a realização dessa pesquisa. Minha preocupação estava centrada nesta diretriz, pois queria ouvir todos os sujeitos para saber como estavam reagindo ao projeto e de que forma estavam envolvidos. Pois me parece que uma escola que pretenda desenvolver um projeto especifico de leitura e escrita, para que os seus alunos melhore o desempenho nas disciplinas como um todo a partir do letramento e mais tornar-se uma escola de projetos, precisa de todos os seus sujeitos. Afinal, não existe nada que avance sem a partilha de cada responsável, principalmente quando se trata de uma escola pública.
Desta maneira, pude perceber o quanto à direção e a coordenação estavam envolvidos e o quanto conhecem a metodologia do projeto, bem como, o crescimento pedagógico dos professores na sala de aula, o envolvimento dos alunos e a dedicação dos funcionários.
A grande questão que surgia na escola era como trabalhar daquela maneira quando professores e alunos voltavam para as aulas, com o cotidiano dos conteúdos, dos livros didáticos e da rotina. Esse era o grande desafio para uma escola pública de projetos em projeto manter a sua evidência pedagógica com o mesmo entusiasmo do projeto em seus dias de aplicação.
O ponto de partida estava dado através daquela experiência, mas nem sempre se tinha a certeza da condução em seus dias ditos “normais”. Pois professores e alunos, assim como a gestão, tinha uma longa jornada pela frente, pautada pela própria história da educação brasileira, principalmente com a inclusão sem a necessária qualidade e ainda o entrave na formação dos professores.
A professora Rios (2003) já nos alerta que ensinar é fazer aulas, e que ensinar é um gosto maior ainda. O dia a dia na sala de aula é exatamente esse, gostar de ensinar! Que vai fazer com que o professor tenha o reconhecimento dos seus alunos. Ai reside o grande objetivo do projeto que pesquisei, ou seja, fazer com que os professores estendessem a euforia e o gosto de aplicá-lo para as suas aulas. Exatamente para que pudessem dar continuidade aquela prática pedagógica aprendida com o projeto em suas aulas, transformando-as em aulas de projetos numa escola pública de projetos em projeto.
A gestão entendia que se as aulas fossem também transformadas em projetos fatalmente os indicadores de aprendizagem aumentariam e desta forma poderia efetivamente criar naquela escola uma referência dentro da rede e quem sabe proporcionar uma identidade para ela, numa clara perspectiva de reinvenção da escola, que tanto clamam os educadores.

“Durante o projeto os alunos sentiam que era novidade, e tudo que é novo eles adoram. Mas quando passava aquela experiência, a euforia dos livros e o gosto pela escrita. Voltava a rotina das aulas e os conteúdos que tínhamos que passar, ai eles voltavam as dificuldades de aprendizagem”. [P1]

  A fala desta professora retrata bem como foi sentida pela escola a proposta do projeto que não era uma imposição, mas como alternativa de ensino e aprendizagem. Diferente das aulas, que desde o planejamento seguem-se os conteúdos que sem significados vão impondo um conhecimento distante da realidade dos alunos.
Por isso, a escola estar em projeto, exatamente porque já possui uma experiência significativa de que são os projetos que farão à escola do futuro. Compartilhando com a teoria “Os projetos de trabalho e a necessidade de mudança na educação e na função da escola” (HERNÁNDEZ, 1998, p. 61).
Escola de Projetos: Uma concepção diferente de Escola

A leitura e a escrita está presente em todos os momentos na escola. São as atividades escolares que movem essas competências. Entretanto, existe uma realidade presente que interfere nesta pedagogia que pesquisas apontam a todo instante no nosso país de que onde se ler menos é na escola. Porem, lá escreve muito. Mas quase sempre cópias de livros didáticos.

Não poderíamos perder esta oportunidade para tecer uma reflexão sobre dois fenômenos ocorridos dentro do cenário educacional brasileiro na década de 1990, que, ao lado da reprodução dos esclerosados esquemas de promoção da leitura (compra e distribuição de livros didáticos, por exemplo), serviram para confundir o trabalho das escolas brasileiras, prejudicando ainda mais a possibilidade de um trabalho sério, objetivo e rigoroso por parte dos professores. (SILVA, 2006, p. 12).

Os dois fenômenos citados por (SILVA, 2006), são as linguagens não-verbais e a tecnologia que adentraram nas escolas com a argumentação de ser futurista. Era a modernidade chegando à escola, sobre políticas públicas que se apresentavam como o futuro da escola moderna.
Pois bem, nas linguagens não-verbais, chegava os programas televisivos, com as fitas K7, fitas de vídeo e mais tarde os DVDs. Além, é claro, das aulas dos telecursos. Junto chegavam também as conseqüências, “[...] o despreparo dos professores para o uso pedagógico dos novos meios, além de abafar a própria responsabilidade da escola para com o ensino objetivo dos usos sociais da escrita”; (SILVA, 2006, p. 12). Que aumentavam cada vez mais, com o aumento da produção que não parava de chegar à escola.
Na seqüência, vinculada às linguagens não-verbais, renasceu na educação brasileira o tecnicismo. Com a chegada dos computadores e da internet que praticamente selou a idéia de uma educação exuberante e espetaculosa. Voltada exclusivamente para a imagem, aonde tudo vinha pronto através dos empacotados televisivos. Transformando o professor que “[...] vieram a diminuir o próprio valor do trabalho do docente presencial, passando o professor a ser um simples monitor para passar os programas aos alunos, como acontece hoje em muitos países”. (SILVA, 2006, p. 12). Estes fenômenos foram fundamentais para instalar a falta de leitura nas escolas e para piorar começava também a geração da cópia, que praticamente alijou a criança da escrita.
Não podemos deixar de lembrar que, logo depois, na década seguinte, o governo federal criava o Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio (PROMED), através do convênio nº. 177/2000 com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que possibilitou uma grande distribuição de livros científicos para os professores e outros programas de livros para-didáticos e de literatura para todo o ensino básico em convênios com o Ministério da Educação (MEC) e os Governos Estaduais que distribuíam esses livros através de programas das Secretarias de Educação.
Mas, também não podemos deixar de lembrar que as dificuldades de leitura e escrita, já estavam enraizadas na educação, pelas razões expostas acima, o prejuízo estava sacramentado. Com uma geração sem prática de leitura e escrita na escola.
Foram com essas razões e esses programas que possibilitou a criação do projeto Leitura e Escrita: Arte e Criatividade na Escola, que faz parte desta pesquisa. Em que no seu recorte, 2006, tenho como objeto de análise.
Nestas análises, já destaquei que foi naquele ano em que a escola, aqui analisada, destacou-se nas avaliações externas e possibilitou.
“Uma escola diferente! Aqui é diferente das outras escolas. Sendo uma escola de projetos em projeto, temos um tempo diferente, como no projeto Leitura e Escrita: Arte e criatividade na Escola. Quando estamos trabalhando com esse projeto, os alunos são separados de suas séries e um dia vêem à escola os números pares, em outro vem os ímpares. Os que ficam em casa, fazem uma parte do projeto com os seus pais. Completando quando estão na escola. Essa medida, acordada com os pais e de muita coragem da Direção, possibilita que nós professores possamos trabalhar em dupla na sala de aula, até com quatro colegas trabalhamos, quando estamos em outros espaços...” (P2)

 
 Esse depoimento de uma professora ilustra bem a idéia do projeto em fazer de fato, uma escola diferenciada, mesmo sendo da rede pública estadual. Que vem de uma intensa e discutida proposta política pedagógica. O que não é comum na rede.
[...] essencial do pedagogo revolucionário: não é se ocultar, ficar “neutro” em meio à “doença da opinionite”. Será apenas a partir de conteúdos verdadeiros que poderemos construir métodos verdadeiros. Não existindo critérios absolutos que nos possam indicar uma direção segura, se tomamos a experiência e os interesses das grandes massas como conteúdos primeiros de ensino, teremos, uma chance de não estarmos no caminho errado. (GADOTTI, 2003, p. 97).

Não podemos negar que parte do fracasso que assola a escola pública, vem de uma política pública que propõe um projeto político da classe dominante. Com conteúdos distantes da realidade da população desta instituição. Assim, foi que pensamos quando revolucionamos a idéia de uma escola de projetos em projeto.

“Começamos a visitar a escola no fim de semana. Tinha livros para ler na biblioteca e para levar emprestado para casa, depois do projeto Leitura e Escrita: Arte e criatividade na Escola. Livros que escolhíamos, não era aqueles obrigatórios, como os livros didáticos. Também, escrevíamos na sala de laboratório de escrita, depois apresentávamos o que criávamos em festivais culturais na escola e os nossos familiares e amigos vinham nos assistir. Era mesmo legal!” (A1)

Esse depoimento desse aluno justifica o trabalho e dar muita segurança para os gestores, professores e funcionários em continuarem apostando numa outra concepção de escola pública.
A formação de Leitores e Escritores na Escola, seria possível?

Naquele ano (2006), responderíamos com muita facilidade a questão. Entretanto, uma escola pública sofre inúmeras mudanças de um ano para outro. Analisando apenas aquele momento, sim! É possível formar leitores e escritores, para isso acontecer efetivamente precisa de muito mais que um projeto. Precisamos de uma política pública que dê conta disso com investimentos maciços em educação continuada de professores e projeto político pedagógico relevante para suprir a grande defasagem que fundamenta a educação brasileira.
O projeto deu essa dimensão, ao criar espaços culturais na escola e desenvolver um programa cultural, alicerçado pelas produções em que professores e alunos realizavam. Entretanto, foi ficando cada vez mais difícil publicar os livros que os alunos produziam. Mesmo aqueles de produção artesanal. Por falta de editores e incentivos da própria Secretária de Educação. Estar certo que o objetivo da escola não é esse, pelo contrário, se ela conseguir realizar uma educação de qualidade já cumpre a sua missão na formação das crianças e dos jovens. Mas, seria muito importante se as escolas públicas pudessem ser centros culturais e que trocassem entre elas uma política cultural pública escolar.

“Os eventos na escola foram ficando cada vez mais animadores! Com os festivais de música, teatro, dança, poesia e lançamentos de livros... Mas, precisávamos de patrocínios e aonde arrumá-los? Quem iria investir numa escola pública da periferia? Era o sonho que martelava as nossas cabeças, vendo aquelas crianças e aqueles jovens promissores fazendo cultura através da educação”. (P3)


   O depoimento desse professor demonstra bem o que o projeto da escola em projeto pretendia. Ou seja, ser uma escola de projetos culturais. Indo desta forma, mais longe com a proposta do ensino e da aprendizagem e para além da formação, tanto de professores, através da educação continuada em projeto. Assim como dos alunos, através das soluções de suas dificuldades de aprendizagem e social.
Essa cultura, que seria a manifestação da cultura popular, poderia dar uma nova concepção de escola, reinventando-a e humanizando-a. Com as manifestações culturais populares humanizadas termos outra estratégia de educação. Com novas linguagens produzindo um novo sujeito, saindo da esfera individual para a dimensão coletiva, trocando e recebendo novas idéias que resgatassem a humanidade em torno do valor cultural e não do valor econômico.
Essa idéia contagiava a escola e a sua comunidade, de forma que os pais passaram a apoiar bastante à gestão da escola e os professores. Comparecendo nos eventos e aplaudindo os resultados que os seus filhos lhes proporcionavam.

“Muito interessante essa idéia de escola de projetos em projeto. Os meninos estão lendo mais e escrevendo melhor e ainda produzindo cultura, bela iniciativa! Quem sabe seja assim a escola que tanto o Governo fala que será a escola do futuro. Por aqui já chegou esse futuro, espero que não seja passageiro, por exemplo, quando sair essa Direção e esses professores” (PAI 1)


  Embora com certa confusão com a propaganda que o Governo fazia na época com a escola do futuro, esse pai através do seu depoimento esclarece bem os resultados que o projeto procurava alcançar.

Reflexão sobre essa prática: Nem todos compartilhavam com a proposta!


No meio dessa euforia em que encontrava a escola, não se pode ter a ilusão de que tudo corria extremamente bem. Tínhamos problemas também, não era unanimidade aquela proposta pedagógica. Existiam os contrários, está certo que era a minoria, mas existiam os descontentes.

“Essa escola nunca tem aula! Só se fala em projeto. Porque que o Governo aceita isso, penso em tirar o meu filho daqui, assim que achar vaga em outra escola eu tiro. Cultura é bom, mas assim como missa tem que ser na igreja, música e teatro deve ser no teatro”. Escola deve ser para estudar e fazer lição (PAI 2)

Nesse depoimento, fica muito clara a posição do pai. Mas, no fundo ela representa a idéia de uma escola tradicional. Que tão bem enraizou na cultura brasileira pela classe dominante que modelou essa escola de acordo com os seus interesses.

O medo da liberdade, de que necessariamente não tem consciência o seu portador, o faz ver o que não existe. No fundo, o que teme a liberdade se refugia na segurança vital, como diria Hegel, preferindo-a à liberdade arriscada. (FREIRE, 1979, p. 20).


Os indicadores das avaliações externas, aqui já mencionadas. Contrapõem a visão de uma escola que só fica nos conteúdos, através das lições enfadonhas, sem significado e sem contextualização. Mesmo assim, com a realidade constatada. Havia professores na escola que pensava o contrário.

“Os projetos são muito bons! O problema deles é que os conteúdos da minha disciplina ficam atrasados e os alunos que ganham com a aprendizagem da leitura e da escrita, acaba perdendo a matéria e assim vão ficando defasados”. (P4)
Acompanhando os alunos que chegavam à escola, na 5ª série. Percebíamos que muitos não sabiam ler e escrever. Mas sabiam fazer cópias dos livros didáticos ou quando o professor passava textos na lousa. Os mesmos professores que questionavam o projeto eram aqueles que trabalhavam com essa metodologia. Percebemos ali um problema de formação que durante a minha coordenação na escola deparava muito com essa situação.
Essa formação no meu entendimento passa pela questão cultural do professor. Em muitos casos percebe a falta de leitura e de escrita desse profissional. Levando-o a repetição de uma prática que se tornou rotina na sala de aula, que é trabalhar sempre a partir do livro didático, inclusive adotando o seu planejamento que já vem pronto pelos autores desses livros.

“A preocupação dos professores é com a decifração de palavras e com a reprodução ou cópia de mensagens, e não com a produção de sentidos para os textos; além disso, muitas vezes fica-se apenas no circuito fechado da palavra, não sobrando tempo nem iniciativa para os saltos dos textos para a realidade histórico-social”. (SILVA, 2006, p. 19).
 
   
 Isto faz com que os professores sintam inseguros e ficam pedagogicamente enfraquecidos no planejamento de suas aulas, recorrendo ao livro didático, alienando a si e aos seus alunos, ou ainda, imitando os velhos modelos e encaminhando o ensino sem nenhum referencial teórico de sustentação cientifica.
Duas situações comprovam bem essa realidade, a primeira era acompanhar os alunos da 3ª série do ensino médio, como eles chegavam à finalização do ensino básico.

“Minha mãe me lembrou outro dia que quando cheguei aqui nesta escola eu mal sabia ler e escrever, isso foi lá na 5ª série. O projeto de leitura e escrita e o trabalho dos meus professores nesses anos todos mudaram isso, participei até como autor no livro: Crônicas e Outras Histórias que a escola conseguiu publicar, com editora e lançamento. Saio porque terminei o ensino médio, gostaria que aqui fosse uma faculdade”. (A2)

 A segunda, era notar aqueles professores que permaneciam na escola e o crescimento pedagógico que apresentavam com as experiências vividas no projeto e na educação continuada em serviço que a escola realizava no seu tempo pedagógico.

“A escola de projetos em projeto desenvolveu uma capacitação inesquecível. Creio que mudou a todos nós, desde a gestão a professores e funcionários. Aprendemos na prática o trabalho coletivo, a troca e a ajuda pedagógica. Aprendemos ainda, que o professor se realiza no chão da escola e principalmente com a sua realidade. Crescendo e desenvolvendo a sua própria formação” (P5)


A experiência que foi adquirida, revelada com mais intensidade em 2006, com a implantação da escola de projetos em projeto. Revelou que a questão pedagógica, para o trabalho dos professores, em sala de aula, melhorou e apontou soluções que poderão fundamentar conhecimentos e caminhos para a formação de professor, de gestor e da escola pública. Que pode sanar dificuldades crônicas das deficiências da leitura e da escrita e também da formação cultural dos alunos da escola pública. Quem sabe, com um estudo mais aprofundado, com mais pesquisa, colocar em debate a educação pública e inspirar sonhos de mudanças reais embasadas nas necessidades daqueles que tiveram a inclusão sem uma escola de qualidade para todos.

“Esse é o sonho! Construir uma escola de projetos em projeto que torne projeto definitivo, mudando a educação pública, que tanto clama por qualidade para todos”. (P6)
Conclusão

 Minha pesquisa, por meio de observação, entrevistas e sendo gestor, como professor coordenador pedagógico da escola pesquisada, constatou que uma escola de projetos em projeto, pode ser efetivamente uma alternativa para a escola pública. Diante da grande contradição em que ela se encontra, com uma prática quase sempre distante da sua realidade em um Mundo que exige cada vez mais qualificação.
Professores e alunos desta escola pública precisam de uma autonomia para que tenham possibilidades de uma outra formação, com um método próprio e dentro desta realidade. Não adianta continuar dando “murro em ponta de faca” (dito popular), que não sai desta dicotomia quase que fadada ao imobilismo. Não sendo totalmente porque são inúmeros professores e gestores que, culturalmente formados, resistem nesta luta de chegar-se a escola de qualidade para todos. Da mesma forma que a sociedade ainda ver na educação a única possibilidade do país sair do seu atraso em que se encontra em termos de educação para o crescimento social e rumo à cidadania plena e de direito.
A tarefa é imensa, pois ainda falta muito, desde a formação as condições de trabalho. Ainda precisamos construir alicerces, criar e encontrar alternativas. Que são políticas públicas efetivas para que a educação brasileira saia dos resultados vexatórios nas avaliações externas, seja nacional ou internacional.
Esse projeto pesquisado com esta pesquisa apontou necessidades ao acompanhar como o aluno entrava e como saia da escola de projetos em projeto. Mesmo com todas as adversidades, houve avanços significativos. Da mesma forma, quando acompanhou aqueles professores que permaneciam na escola e o crescimento das suas práticas, demonstrando o quanto é importante uma educação continuada em serviço. Mais ainda, o quanto avança o entendimento da educação quando o professor tem também aliado a sua formação continuada uma formação cultural. Pois quando ele professor descobre as possibilidades das artes, por exemplo, no ensino prático da leitura e da escrita. Possibilita criatividade em suas aulas e instiga os seus alunos a procurar cada vez mais manifestações culturais e até mesmo produzir cultura a partir de sua vocação.
Foram momentos significativos que contextualizaram muito a profundidade desta pesquisa, quando da realização das entrevistas. Pois elas revelaram e surpreenderam a todos os envolvidos. Apontando o quanto cada um realizou para aquele vitorioso resultado em 2006 nas avaliações externas e o quanto cada um cresceu com aquela experiência.
Evidentemente, que ficaram muitos dados para serem levantados e pesquisados, esse trabalho está apenas começando. Não se encerra neste artigo, precisa, quem sabe, de uma tese maior. Que o futuro possibilitará mais revelação e mais trabalho, onde professores que participaram dessa grandiosa oportunidade estão pensando numa reflexão bastante reflexiva para a construção de projetos de pesquisas sobre essa experiência.
A proposta do professor e pesquisador Silva, tendo tanto alicerçado a elaboração teórica desse artigo, que há mais de 30 anos, vem lutando para a democratização do livro e da leitura no Brasil, como chama de “produção de leitura”, para que a escola desenvolva efetivamente o ensino da leitura, trouxe os caminhos para que essa escola de projetos em projeto pudesse construir o ensino também da escrita, e mais, que esta prática na sala de laboratório de escrita transformasse em produção cultural.
Para finalizar, farei minha as palavras do mestre Freire que deixou saudades pela sua grande luta pela educação popular (1979, p. 43), “[...] A pedagogia do oprimido, que busca a restauração da intersubjetividade, se apresenta como pedagogia do Homem. Somente ela, que se anima de generosidade autêntica, humanista e não “humanitarista”, pode alcançar este objetivo. Pelo contrário, a pedagogia que, partindo dos interesses dos opressores, egoísmo camuflado de falsa generosidade, faz dos oprimidos objetos de seu humanitarismo, mantém e encerra a própria opressão. É instrumento de desumanização”. É exatamente pensar numa escola que sonha com os sonhos de sua gente, buscando conhecimento a partir do seu Mundo, da sua comunidade e vivendo a alegria da descoberta.














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[1]Artigo apresentado à Universidade Cidade de São Paulo. Programa de Formação de Gestores, curso de Especialização em Gestão Escolar, sob a orientação da Professora Valéria Aparecida Alves, como requisito para conclusão de curso.